EMOÇÃO
O Corcel Indomável
Existe uma animação que eu gosto muito chamada Spirit - O corcel indomável. Bem, pra quem não sabe (como antes eu não sabia), corcel é uma raça de cavalo. Existem os mangas-largas marchadores, os mustangues, os paint horses etc. Sinceramente, não sei dizer qual deles gosto mais. Cavalos são animais fascinantes.
Pois bem, a animação conta a história de um cavalo, da raça corcel, selvagem, que corria pelos campos, solto, livre, misturado a natureza, ao ar, a grama, aos outros animais. (Fiquem tranquilos, não darei nenhum spoiler para não desesperar quem ainda não viu essa animação e quer ver). Mas trata-se de uma história bonitinha que passaria despercebida por qualquer criança ou adulto que gosta de animações (como eu), mas não pelo crivo emocional desta humilde psicóloga com pretensões filosóficas (que Mario Cortella me perdoe!). Vi em Spirit muito mais do que uma historinha de criança. Vi uma mensagem. Mas para dizer o que vi, preciso contar um pouco do contexto da história. Sem spoiler, prometo.
Spirit era um cavalo corcel selvagem que é perseguido por um soldado que quer domesticá-lo de qualquer jeito. Quando finalmente é levado para o quartel desse soldado, ele encontra um índio, tão selvagem quanto ele, que, como ele, também foi preso pelo soldado e os dois se identificam. Vivem juntos muitas aventuras. O índio se torna seu amigo, conquista sua confiança, simplesmente porque entende que ele não pode ser domesticado, precisa ser livre. Todas as vezes que tentam domá-lo, ele se rebela e acaba provocando alguns desastres.
Dito isso, só isso, (veja o filme, você vai gostar e vai entender melhor o que vai aqui), transformei essa história em uma metáfora psicológica. Assim, imaginei Spirit como nossas emoções! Sim, sempre costumo dizer, insistentemente (que chata!), que nossas emoções são como cavalos selvagens. Não conseguimos domesticá-las. Quando achamos que sim e tentamos, sempre acontecem desastres (depressão, ansiedade, insônia, irritação, traumas...quer mais? Não, né!). Emoções não são para serem represadas, precisam ficar livres, caso contrário, assim como aconteceu com Spirit, elas se debatem dentro de nós, se rebelam e se soltam da forma mais bruta possível. Um exemplo? Uma raiva contida, reprimida, pode levar a uma vingança mortal, é como uma mola pressionada: quando soltamos, ela se expande de forma brusca e vai longe, podendo machucar alguém. Quer outro exemplo? Luto. Tenta não chorar, não gritar, não desaguar! Provavelmente, vai sair pelos poros (alergias, feridas, ressecamentos) ou busca saída para corpo (gastrite, falta de ar, problemas cardíacos, disfunção neurológica) ou sai pelos transtornos emocionais (depressão, ansiedade), mas que sai, sai! Ok, e sobre aquelas mais positivas? Vamos então às emoções positivas. Elas também são selvagens e também não gostam muito de serem domesticadas. Exemplo? Alegria. Tenta conter. Duvido que consiga. Você precisa pular, sorrir, dançar. Se não fizer isso a alegria se torna em frustração, irritação, decepção. Quer outra? Essa é o próprio Spirit de tão livre, selvagem, forte que é: o amor. Segura ele! Já tentou? Não dá! Principalmente o amor que é a emoção, a mola mestra do universo humano. Retire o amor e sobra somente um objeto (leia 1 Coríntios 13).
Não! Não podemos domesticar as emoções. Mas podemos (e devemos) controlá-las (Gênesis 4.7), assim como o índio conseguiu com o Spirit. Ele não tentou domesticar o corcel, mas se aproximou ganhando sua confiança e com isso pôde até montá-lo (sem sela, sem arreio). Como podemos controlar nossas emoções? Como o índio fez com o Spirit! Deixando-as livre, ou seja, expressando-as, "desenergizando-as", desaguando-as (eita! Estou demais no português! Neologismos e arcaísmos!).
Está triste, chore. Está alegre, sorria. Está irritado, vai ariar panela! Está com raiva, soque a almofadinha! Está tenso, veja uma comédia. Enfim, não tente conter as emoções, mas controle-as deixando-as fluir. Mas, para isso, você precisa identificar que emoção está sentindo. Não disfarce usando "bem", "normal" ou "pleno", essas palavras são genéricas. Não dizem nada. Não são emoções. Diga para si mesmo(a) o que sente, sem fingimento, sem preconceitos ou repressão. Depois dê vazão à elas. Sinta. São cavalos selvagens. São lindas (não importa quais sejam), se estão livres.

No filme, o índio entendeu que Spirit deveria ser livre. Mas o soldado não teve a mesma sensibilidade e se deu mal.
Sinta suas emoções porque elas são você! Sinta-se, perceba como você é um dom de Deus, da Sua Criação. Se entregue às suas emoções, mesmo que sejam ruins. Se você percebê-las e deixá-las ir, você vai sentir como se estivesse fluindo, vivendo! Não se pode conter um dique sem as comportas. Uma hora ele estoura e é um desastre total. De vez em quando precisamos abrir as comportas! Precisamos deixar as emoções saírem, porque elas vão sair de qualquer jeito! Então, vamos ser como o índio: entender e respeitar.
Estou falando de emoções como se fossem algo a parte de nós. Mas essas emoções são parte do que somos. Seja lá o que você sente, é você. Respeite. Se respeite. Deixe fluir. Se deixe fluir.
Só uma observação: dar vazão às emoções não significa que você vai fazer o que quer, na hora que quiser, sem se importar com o outro. Lembre-se que o outro também tem suas emoções. Respeite também os espaços: o seu e o do outro. Não vai ficar com raiva e sair socando alguém, não é assim que se desagua. Emoções são energias, procure formas de dissipá-las. Dicas para "desenergizar": você pode fazer academia, correr, varrer o quintal, ouvir música, cantar, observar pássaros, cuidar de plantas. Tudo isso ajuda muito! O importante é que você as deixe livre, sendo livre e permitindo a liberdade do outro.