A curiosidade é minha marca principal. Procuro sempre investigar, conhecer, debater.

Minha foto
Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Compartilhar o que aprendemos é deixar um legado para as futuras gerações. Além disso, é sinônimo de generosidade e também uma tentativa de ensinar a construir um mundo melhor, um mundo integral, onde tudo e todos importam porque são partes do todo. Compartilhar conhecimento é construir um mundo holístico.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

EMOÇÃO

O Corcel Indomável

Existe uma animação que eu gosto muito chamada Spirit - O corcel indomável. Bem, pra quem não sabe (como antes eu não sabia), corcel é uma raça de cavalo. Existem os mangas-largas marchadores, os mustangues, os paint horses etc. Sinceramente, não sei dizer qual deles gosto mais. Cavalos são animais fascinantes. 

Pois bem, a animação conta a história de um cavalo, da raça corcel, selvagem, que corria pelos campos, solto, livre, misturado a natureza, ao ar, a grama, aos outros animais. (Fiquem tranquilos, não darei nenhum spoiler para não desesperar quem ainda não viu essa animação e quer ver). Mas trata-se de uma história bonitinha que passaria despercebida por qualquer criança ou adulto que gosta de animações (como eu), mas não pelo crivo emocional desta humilde psicóloga com pretensões filosóficas (que Mario Cortella me perdoe!). Vi em Spirit muito mais do que uma historinha de criança. Vi uma mensagem. Mas para dizer o que vi, preciso contar um pouco do contexto da história. Sem spoiler, prometo. 

 Spirit era um cavalo corcel selvagem que é perseguido por um soldado que quer domesticá-lo de qualquer jeito. Quando finalmente é levado para o quartel desse soldado, ele encontra um índio, tão selvagem quanto ele, que, como ele, também foi preso pelo soldado e os dois se identificam. Vivem juntos muitas aventuras. O índio se torna seu amigo, conquista sua confiança, simplesmente porque entende que ele não pode ser domesticado, precisa ser livre. Todas as vezes que tentam domá-lo, ele se rebela e acaba provocando alguns desastres.

Dito isso, só isso, (veja o filme, você vai gostar e vai entender melhor o que vai aqui), transformei essa história em uma metáfora psicológica. Assim, imaginei Spirit como nossas emoções! Sim, sempre costumo dizer, insistentemente (que chata!), que nossas emoções são como cavalos selvagens. Não conseguimos domesticá-las. Quando achamos que sim e tentamos, sempre acontecem desastres (depressão, ansiedade, insônia, irritação, traumas...quer mais? Não, né!). Emoções não são para serem represadas, precisam ficar livres, caso contrário, assim como aconteceu com Spirit, elas se debatem dentro de nós, se rebelam e se soltam da forma mais bruta possível. Um exemplo? Uma raiva contida, reprimida, pode levar a uma vingança mortal, é como uma mola pressionada: quando soltamos, ela se expande de forma brusca e vai longe, podendo machucar alguém. Quer outro exemplo? Luto. Tenta não chorar, não gritar, não desaguar! Provavelmente, vai sair pelos poros (alergias, feridas, ressecamentos) ou busca saída para corpo (gastrite, falta de ar, problemas cardíacos, disfunção neurológica) ou sai pelos transtornos emocionais (depressão, ansiedade), mas que sai, sai! Ok, e sobre aquelas mais positivas? Vamos então às emoções positivas. Elas também são selvagens e também não gostam muito de serem domesticadas. Exemplo? Alegria. Tenta conter. Duvido que consiga. Você precisa pular, sorrir, dançar. Se não fizer isso a alegria se torna em frustração, irritação, decepção. Quer outra? Essa é o próprio Spirit de tão livre, selvagem, forte que é: o amor. Segura ele! Já tentou? Não dá! Principalmente o amor que é a emoção, a mola mestra do universo humano. Retire o amor e sobra somente um objeto (leia 1 Coríntios 13). 
Não! Não podemos domesticar as emoções. Mas podemos (e devemos) controlá-las (Gênesis 4.7), assim como o índio conseguiu com o Spirit. Ele não tentou domesticar o corcel, mas se aproximou ganhando sua confiança e com isso pôde até montá-lo (sem sela, sem arreio). Como podemos controlar nossas emoções? Como o índio fez com o Spirit! Deixando-as livre, ou seja, expressando-as, "desenergizando-as", desaguando-as (eita! Estou demais no português! Neologismos e arcaísmos!). 
Está triste, chore. Está alegre, sorria. Está irritado, vai ariar panela! Está com raiva, soque a almofadinha! Está tenso, veja uma comédia. Enfim, não tente conter as emoções, mas controle-as deixando-as fluir. Mas, para isso, você precisa identificar que emoção está sentindo. Não disfarce usando "bem", "normal" ou "pleno", essas palavras são genéricas. Não dizem nada. Não são emoções. Diga para si mesmo(a) o que sente, sem fingimento, sem preconceitos ou repressão. Depois dê vazão à elas. Sinta. São cavalos selvagens. São lindas (não importa quais sejam), se estão livres.

No filme, o índio entendeu que Spirit deveria ser livre. Mas o soldado não teve a mesma sensibilidade e se deu mal. 

 Sinta suas emoções porque elas são você! Sinta-se, perceba como você é um dom de Deus, da Sua Criação. Se entregue às suas emoções, mesmo que sejam ruins. Se  você percebê-las e deixá-las ir, você vai sentir como se estivesse fluindo, vivendo!
Não se pode conter um dique sem as comportas. Uma hora ele estoura e é um desastre total. De vez em quando precisamos abrir as comportas! Precisamos deixar as emoções saírem, porque elas vão sair de qualquer jeito! Então, vamos ser como o índio: entender e respeitar. 
Estou falando de emoções como se fossem algo a parte de nós. Mas essas emoções são parte do que somos. Seja lá o que você sente, é você. Respeite. Se respeite. Deixe fluir. Se deixe fluir. 
Só uma observação: dar vazão às emoções não significa que você vai fazer o que quer, na hora que quiser, sem se importar com o outro. Lembre-se que o outro também tem suas emoções. Respeite também os espaços: o seu e o do outro. Não vai ficar com raiva e sair socando alguém, não é assim que se desagua. Emoções são energias, procure formas de dissipá-las. Dicas para "desenergizar": você pode fazer academia, correr, varrer o quintal, ouvir música, cantar, observar pássaros, cuidar de plantas. Tudo isso ajuda muito! O importante é que você as deixe livre, sendo livre e permitindo a liberdade do outro.


segunda-feira, 6 de junho de 2022

 O GAVIÃO E O  COLEIRINHO

Não gosto de ter e nem de ver pássaros na gaiola. Pássaros foram feitos para serem livres, voar. Não critico aqueles que os tem em gaiolas, desde que não sejam pássaros capturados, retirados a força de sua liberdade. Há criadores autorizados cujos pássaros nasceram em gaiolas (são criadores considerados até como benfeitores de espécies com risco de extinção), nesses casos, tais pássaros nem sabem voar direito, muito menos sobreviver no mundo selvagem lá fora, então, a crueldade maior seria soltá-los em um mundo 100% hostil!! (Aliás, esse mundo selvagem é tão perigoso para eles quanto para nós, né?!), 
Feita essa ressalva, devo confessar que tenho um coleirinho de oito anos que ganhei de um sobrinho. Nasceu na gaiola, infelizmente. Mas é meu protegido, meu companheiro de estudo e de atendimentos (psicoterápicos, é meu co-terapeuta!😊). Somos cúmplices em muitos momentos. E tenho certeza absoluta de que ele me entende, embora em muitas vezes eu não o entenda. (Desculpe parecer meio maluca de falar que um coleirinho me entende, mas tenho uma teoria: acho que os animais são os mais racionais da terra, nós ficamos em segundo plano! Num outro momento, falamos sobre isso).
Sempre coloco o Ragnar Lothbrok (esse é o nome dele, em homenagem ao personagem principal da série Vikings), no parapeito da janela do meu escritório e ali ficamos juntos todos os dias, a tarde e um pouco da noite. À noite, levo o Ragnar para seu cantinho. Ele sempre tenta me bicar quando pego a gaiola. Às vezes deixo, não dói (ele pensa que sim!), é só uma brincadeira. 
Um dia, coloquei o Ragnar na janela e fui tomar café. Lá pelas tantas, Paulo (meu marido, que tem um ouvido apurado e clínico para pássaros: cantos, piado de briga, de medo, de fome, enfim... não disse que os bichos se comunicam claramente?) disse ter ouvido um barulho. Não liguei. Mas, em seguida, eu ouvi. Resolvi checar. Cheguei ao escritório e eis que bem em cima da gaiola do Ragnar, estava um lindo, grande e perigoso gavião carijó!
Que bicho lindo! Que imponência! Que majestade! Mas em cima do meu Ragnar😲!! No susto, levantei os braços e ele voou para longe! Ficamos eu e Ragnar ofegantes, assustados, em choque. Ragnar mal conseguia voltar para o poleiro. A lembrança do gavião não saiu mais da minha cabeça durante o dia todo. Resolvi deixar Ragnar de atestado médico, poupá-lo de seu trabalho ao meu lado, durante alguns dias. 
Mas esse episódio me fez pensar em nossas vidas! Como somos efêmeros! Como somos pássaros engaiolados a mercê de homens maus, que querem nos roubar a vida. Basta somente um momento de descuido e lá estamos nós, acuados e em perigo com as diversas coisas que existem no mundo selvagem para além de nossas gaiolas. Sim, nós também fomos feitos para a liberdade, no entanto, ao contrário do que acontece com os pássaros, somos nós mesmo que nos engaiolamos. Nos engaiolamos nos nossos pecados, nos nossos erros, em nossas escolhas. Escolhemos servir ao mal, e algumas, vezes, ele vem requerer seu servo. O grande problema é que não sabemos a hora que ele vem. O gavião não avisa que vai atacar. Sabemos que quando ele voa piando, está somente mapeando a área. Mas quando o vemos e ele está em silêncio, é perigo! A qualquer momento ele ataca. 
A Bíblia nos admoesta a todo momento a ter cuidado com isso. Quando menos esperamos o inimigo vem. Sorrateiro, certeiro, lindo, sedutor e mortal. 
Jesus disse: Vigiai e orai porque não sabeis a hora em que o ladrão chega (Mt 24.42-44). Sim, o ladrão não avisa que vem, não agenda uma hora conosco para nos roubar sabe-se lá o quê (bens, tempo, vida...), mas nesse mesmo contexto, Jesus diz que o Filho também não avisará de sua chegada. Logo temos que vigiar para não sermos arrebatados pelo inimigo e para estarmos prontos para sermos arrebatados por Jesus. 
Nossa vida é um sopro. O que será daqui a cinco minutos? Não podemos relaxar. Não quer dizer que devemos estar em constante tensão o tempo todo, mas devemos sim estar atentos quanto a nossa alma (mente) e nosso espírito (sopro), porque essas duas coisas são muito fáceis de serem arrebatadas. Se for por Jesus Cristo, somos vencedores e privilegiados, mas se for por...ai! ai! nosso fim será muito, muito ruim.
A propósito, o gavião não é mau como o inimigo de nossas vidas, ele só estava tentando sobreviver. Talvez fosse uma fêmea, querendo levar o almoço para seus filhotes. É a vida. Mas o meu Ragnar não será almoço de ninguém! Nem eu! Ragnar teve a mim para protegê-lo. Eu tenho Jesus! E você? Quem te protege? Vigie, ore, você não sabe quando um gavião virá!