LARGO, RASO, PROFUNDO
Gosto bastante da música Gita de Raul Seixas. Ela sempre
provoca em mim diferentes reflexões. Me identifico bastante com um dos versos: “sou
largo, raso, profundo”. Exatamente como me sinto algumas vezes. Mas percebam
que nesse verso, há um paradoxo: como alguém pode ser raso e profundo ao mesmo
tempo? Então, fiquei matutando sobre o que exatamente quer dizer "largo,
raso, profundo"?
Talvez queira dizer as dimensões de sentimentos e
seus momentos. Algumas vezes são largos, de grande extensão, um grande sertão,
um grande mar, uma grande geleira...que sentimentos poderiam ser tão grandes
que pudessem ser classificados como "largos"? O amor? O ódio? Os
dois? Algum mais? Todos mais?
Mas os sentimentos também podem ser rasos. Esse não
é, com certeza, o caso do amor. O amor nunca é raso. Nem do ódio. Mas bem que
poderia ser o caso do preconceito! Poderia ser o caso da angústia, da mágoa, da
tristeza. Enfim, que seja. Esses sentimentos deveriam sempre ter o caráter de
rasos! Raso é aquele lugar de água em que "dá pé", ou seja, que
podemos tocar o fundo e deixar a cabeça para fora d'água. Podemos sair dele
fácil, podemos voltar a ele fácil. Mas eles nos parecem mesmo profundos! Temos a
sensação de que não conseguiremos sair deles. O tempo passa devagar. Parece uma
eternidade. No entanto, devemos lembrar que eles são rasos sim! Sairemos deles,
com certeza. As coisas passam! Tudo tem seu tempo (já dizia Salomão no seu
livro Eclesiastes). Nosso desespero é que nos faz pensar que estamos afundando,
que não vai dar pé. De fato, esse é o caso do preconceito, da angústia, da
mágoa e da tristeza e outros sentimentos negativos. Apesar de, quando estamos
neles termos a sensação de que não sairemos fácil, eles são rasos, altamente
passageiros. São apenas nossas percepções que fazem com que eles
pareçam...profundos! O preconceito é um caso a parte. Ele é raso porque não tem
fundamento, não tem lógica imaginar que uns são superiores a outros, mas ele é
largo!! Ele é abrangente (infelizmente). Ele é fértil, promíscuo, raso e largo!
Mas quais são, então, os sentimentos profundos? Bem,
ele não é plural. É um só: o amor! O amor é profundo, não "dá pé",
mas incrivelmente é muito prazeroso sentir que o amor nos cobre e mesmo assim
continuamos a... respirar! O amor pode tudo! E quem pode defini-lo? Camões já
tentou, Vinícius de Moraes também (várias vezes) e outros tantos poetas que
tentaram em vão colocar em palavras o que não pode ser codificado, porque é
profundo. Nós somos feitos do amor. Nos perdemos dele pela vida, com certeza, mas
ele, o amor, é nossa essência esquecida, profunda, pura.
Não sou nem um pouco boba para tentar falar do amor
aqui. Deixo para os especialistas, os poetas. (Mas duvido que consigam). Porém,
o amor é algo inerente no ser humano, porque Deus nos criou Dele e para Ele, o
Amor! Então, seja em discussões, debates, papos científicos, papos políticos ou
de futebol, que sejam expostos com amor. O amor apaixonado, o amor vibrante, o
amor que perdoa, pondera, anima, exorta, que "tudo sofre, tudo crê"
(1 Coríntios capítulo 13). Esse amor, profundo, largo e nem um pouco raso é o
que os gregos chamam de ágape. O amor Divino e inexplicável.
A profundidade de cada ser está em sua essência de
amor. Então, eu sou (somos, pode ser?), de fato larga porque sou uma imensidão
como todos os seres humanos, mas também rasa, porque deixo que o mundo me torne
muitas vezes superficial, e enfim, profunda porque minha essência é o amor que
eu muitas vezes não entendo ou não ponho em ação mas que está lá. Vivamos com
esse amor total que está dentro de nós e o mundo será transformado enfim.
O que vai nos salvar de tudo, não é a vacina, não
são os remédios, e tampouco um grande herói político ou social, mas o Amor
(agora com letra maiúscula porque Deus é Amor e o Amor é Deus). Vamos exercer o
amor. Vamos amar como se não houvesse amanhã!
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